08 junho 2014

Sorte Ou Azar? - Capítulo 14 #Day8


O que mais eu deveria fazer? 
Não podia simplesmente deixar minha prima andar por aí tomando drogas. Não se houvesse algo que eu pudesse fazer para impedir. 
Assim, numa noite, encontrei o depósito secreto quando ela não estava em casa (não foi tão difícil; ela havia escondido os comprimidos dentro do porta-jóias), depois revirei a farmácia da rua até encontrar comprimidos de aparência semelhante, mas inofensivos, que eu poderia substituir pelos de verdade - que então joguei no vaso e dei descarga. 
- Quando ela chegar em casa - observou Joe, por cima de sua Coca - vai matar você. 
- Miley ia me matar mesmo antes disso - falei em tom sombrio. - Isso só vai intensificar a decisão dela. 
- Você sabe que ela não pretendia se matar de verdade. - Joe levou a lata de refrigerante aos lábios e tomou um longo gole. 
- Não pretendia? Joe, claro que pretendia. Você não toma uma overdose de Valium por acidente. Isso é loucura! 
- Hã. - Joe enfiou a mão no saco de batatas fritas que alguém havia deixado aberto na mesa da cozinha e pegou um punhado. - Loucura nada. Valium é a única droga com a qual é bem difícil de se matar. E a noção de tempo dela foi impecável, para o caso de você não ter notado. 
Arrasada na cadeira em que Ashley geralmente se sentava no café-da-manhã, olhei atônita para Joe. 
- A noção de tempo? O que você está falando? 
- Ela sabia que eu e você íamos sair esta noite, não é? 
Mordi o lábio, lembrando-me do confronto na cozinha. 
- Bem, sabia. 
- Foi o que pensei. Então deve ter tomado os comprimidos na hora do jantar. Bem antes de eu vir pegar você. Se Petra tivesse verificado, como deveria, teria encontrado Miley esparramada no chão e sua idazinha ao teatro - ele mordeu ruidosamente uma batata - teria sido adiada indefinidamente. 
Olhei por cima da mesa da cozinha.
- Você não pode estar falando sério. Está dizendo que Miley não tentou se matar, que tomou um punhado de comprimidos só para me impedir de sair com você?

Ele deu de ombros e engoliu a batata com um bocado de refrigerante. 
- Não um punhado. Dois. Foi quantos ela disse aos paramédicos que havia tomado. Miley sabe que dois Valium não fazem nada. É só um show. Um show grade e inconveniente. Ela não fez nada contra si própria. Felizmente para nós, desta vez, você trocou o Valium por aspirinas infantil. E então Petra fez besteira e só encontrou Miley depois de termos saído. 
- Ah, Joe - suspirei. - A coitada da Petra achou que era culpa dela, mas não é. É minha. 
Joe bateu seu refrigerante na mesa. 
- Corta essa - ele fez uma careta. 
Mas era fácil para Joe dizer "corta essa". Para mim não era nada disso. Afinal de contas, Miley havia confiado em mim, mostrando o boneco que tinha feito. E como eu havia retribuído? Saindo com Joe. Claro, Joe não gostava de mim, pelo menos não como eu gostava dele. Eramos apenas amigos. 
Mas ele e Miley eram só amigos, e ele não ia a concertos com ela. Claro que ela ficou com ciúme. Claro que havia agido movida por esse ciúme. 
E agora ele tinha me convidado para acompanhá-lo no baile. Se ela havia tentado se matar - ou, se o Joe estivesse certo, fingindo uma tentativa de suicídio - só porque nós tínhamos ido a um concerto juntos, o que faria quando soubesse que ele havia me convidado para o baile da primavera? Eu não sabia. Mas tinha certeza de que não queria descobrir. 
Foi nesse momento que o telefone tocou. Antes do segundo toque, eu estava de pé, saindo de trás da mesa e pegando o aparelho. 
- Sou eu - disse tia Jennifer. - Estamos aqui no hospital com a My. Vamos chegar logo em casa. Ela vai ficar bem graças a você. 
Soltei um enorme suspiro de alívio. 
- Graças a Deus. 
Levantei o polegar para Joe. Ele murmurou: 
- Eu não disse? 
- Como estão as crianças? - perguntou tia Jennifer. 
- Dormindo. 
Ashley, felizmente nem chegou a acordar. Braddy ouviu a agitação e desceu, mas Joe o convenceu a voltar para a cama prometendo um jogo de bola no quintal, no dia seguinte.

- Ótimo. Bem, parece que vão dar alta logo. Não tiveram de fazer lavagem estomacal, assim que souberam que era... bem, o que você disse. Mal pude acreditar quando me contaram. Não sei como ela conseguiu arranjar Valium. Como você soube, Demi? 
- Soube o quê? 
- Que ela estava com aqueles comprimidos? 
Engoli em seco.
- Eu... só encontrei... 
- E não contou a gente? - Tia Jennifer pareceu realmente desapontada comigo. - Estou muito grata pelo que fez, Demi, mas mesmo assim deveria ter nos contado. Miley está... ah, aí vem um médico. Não espere por nós, Demi. Vamos conversar de amanhã. Obrigada por vigiar as crianças. 
- Ah, não tem pro... 
Mas tia Jennifer já havia desligado. 
- ...blema.
Pus o telefone no gancho, depois me virei para Joe. Sentia como se fosse vomitar. Mas não tinha opção. 
Miley havia pensando em tudo. 
- E então? - Joe estava me olhando com aqueles intensos olhos castanhos. - Ela está legal, não é? Eu disse. 
- Ela está bem - engoli em seco. - Joe. Não posso ir ao baile com você. - Falei depressa. E com firmeza. 
Joe só continuou me olhando. 
- É isso que ela quer, você sabe. Foi por isso que fez. 
- Mesmo assim - lembrei-me de como a voz da tia Jennifer pareceu sofrida ao telefone. - Não posso ir. Sinto muito. 
Joe revirou os olhos. 
- Para de se culpar. Nada disso é sua culpa. 
- É minha culpa, também! Por isso não posso ir com você. Não seria certo. É melhor você convidar outra pessoa. 
Joe pareceu com raiva. 
- Não quero convidar mais ninguém. Se não posso ir com a garota que eu quero, não vou com ninguém. 
- Por quê? - perguntei acalorada. - é Petra que você quer, mas ia comigo. Então que diferença faz? 
- Sabe de uma coisa? - ele soltou um riso súbito. E sem humor. - Você está certa. Não faz diferença nenhuma. Vou para casa agora mesmo. Vejo você amanhã. 
E então foi embora.

Fiquei sozinha na cozinha dos Pitt. O que tornou fácil fazer o que fiz em seguida: me sentar e abrir o berreiro durante uns bons dez minutos. E não estava chorando só por mim ou porque tinha perdido o Joe - não que ele fosse meu pra começar. 
Não. Eu estava chorando por Miley, e por Petra, e por todas as pessoas que a minha magia havia ferido. 
Parando para pensar, o que Miley havia feito consigo mesma não era, no fundo, resultado direto de meu feitiço de amarração? Eu a havia amarrado para não fazer mal aos outros... 
... mas não para não fazer mal a si mesma. 
Esse fato me machucou ainda mais quando ela finalmente chegou em casa e a vi ali com eles - com os pais e Petra - no hall quando corri para recebê-los. Miley estava pálida e parecia mais magra do que nunca. 
Mas mesmo pálida, não havia nada de fraco no modo como lançou um olhar, que sem dúvida era de pura maldade, por cima do ombro quando parou de subir a escada depois de ouvir minha voz quando falei: 
- Ah, vocês chegaram. 
- Ah, Demi - disse tia Jennifer, enquanto tiravam o casaco de noite. - Ainda está acordada? Não precisava esperar. É tarde. 
- Fiquei preocupada demais para dormir. 
- Bom, não precisa mais se preocupar - o tio Brad olhou para Miley na escada. - Ela está bem. Graças a você. 
Ao ouvir isso, o rosto de Miley perdeu um pouco de palidez e assumiu uma espécie de vermelho manchado. Depois olhando pra mim, cuspiu: 
- Vou pegar você por isso, nem que seja a última coisa que eu faça, Jinx! 
- Miley! - o tio Brad ficou pasmo. - Sua prima pode ter salvado sua vida hoje. A coisa adequada seria agradecer a ela. 
- Ah, vou agradecer, sem dúvida - Miley soltou um riso de desprezo. - Tenho um agradecimento muito especial que estive guardando só para a Jinx. 
- Miley! - a voz de tia Jennifer saiu tão dura que poderia ter cortado o vidro. - Vá para o seu quarto. Vamos discutir isso de manhã. Com seu terapeuta. 
Miley me lançou um último olhar funesto e depois subiu correndo a escada.

Quando a porta havia batido, Petra, que estivera parada em silêncio junto da porta que dava na sala de estar, disse: 
- Bom, estou cansada. Se não for problemas para vocês, acho que vou dormir. 
- Claro, Petra - respondeu tia Jennifer num tom completamente diferente. - Muito obrigada por tudo o que fez esta noite. 
- Sem problema - respondeu Petra. - Fico feliz porque... bem. Fico feliz. Boa noite. 
Ela desapareceu pela porta que dava em seu aconchegante apartamento do porão, depois de me lançar um olhar de bondade e consolo, que quase dizia "vai ficar tudo bem". Assim que ela sumiu, virei-me para tia Jennifer e tio Brad. 
Era hora. Eu havia feito com Joe. Agora era a vez deles. 
Não queria. Mas não tinha escolha. 
- Sei que vocês dois estão cansados e provavelmente querem ir para a cama. Mas só queria dizer como lamento não ter contado sobre as drogas. Quero dizer, que eu sabia que Miley tinha. E... e... - acrescentei essa última parte rapidamente, tendo ensaiado praticamente sem parar, na cabeça, desde que tinha visto Miley ser carregada para fora da casa naquela maca. - E se quiserem me mandar para casa, entendo completamente. 
Tia Jennifer e tio Brad me olharam como se eu tivesse sugerido que me degolassem. 
- Mandar você para casa? - ecoou tio Brad. - Por que faríamos isso? 
- Ah, Demi, querida. - Cheirando a um perfume exótico como sempre, e linda num vestido longo e preto, tia Jennifer passou o braço em volta de mim. - O que aconteceu esta noite não é sua culpa. Miley anda tendo... dificuldades... já há algum tempo. Desculpe ter sido rude com você ao telefone. Eu só estava perturbada. Mas não culpamos você. De jeito nenhum. 
- Mas - como eu poderia explicar isso sem fazer Miley me odiar (não que ela já não odiasse) para sempre se descobrisse? - É só que... bem, esse negócio com o Joe... 
O rosto bonito de tia Jennifer endureceu e ela afastou o braço de mim. Mas não, como pensei a princípio, porque estava com raiva de mim.

- É disso que se trata? - perguntou ela. - Nós estávamos imaginando. Miley tem uma fixação por ele há um bom tempo. É uma infelicidade ele não corresponder ao sentimento, mas eu expliquei a ela... que a vida é assim. Não é sua culpa se ele escolheu você e não ela. 
Fiquei vermelha até a raiz dos cabelos. 
- Aah, não - falei, horrorizada. - Joe e eu... não estamos namorando. Somos só amigos. Não sei porque Miley acha que é algo além disso. 
Tia Jennifer levantou as sobrancelhas. 
- Verdade? - perguntou. - Bem, porque ele sempre parece estar... 
Mas ela não terminou porque o tio Brad interrompeu; 
- Espere. Não estou acompanhando. Achei que Miley havia superado o negócio com o Joe. E o tal de Liam? 
- Acho que são só amigos - disse tia Jennifer. 
É. Amigos com benefícios. 
- O negócio - senti que, de algum modo, o objetivo do meu discurso havia se perdido - é que acho que o fato de eu ser amiga de Joe foi que levou Miley a fazer o que fez. De modo que, se eu fosse para casa... 
- Você ainda não pode voltar para Hancock, Demi - tia Jennifer pareceu perturbada. - Brad e eu adoramos ter você aqui. E Braddy e Ashley veneram você. Petra só consegue dizer coisas boas a seu respeito. Até Marta diz que você é um sopro de ar puro na casa. Você se tornou tão necessária aqui que nem sei o que faríamos sem a sua presença. 
- E - acrescentou tio Brad - francamente, acho que sua estada aqui tem sido boa para Miley. Sei que esta noite foi ruim. Mas imagine como poderia ter sido pior, se você não tivesse... bem, feito o que fez. 
- Você é um bom exemplo para ela, Demi - concordou tia Jennifer. - Você tem os pés plantados com muita firmeza no chão. Devo admitir, Demi, que eu realmente esperava que um pouco da sua boa influência passasse para Miley. 
Mordi o lábio inferior. Bom exemplo? Eles esperavam que um pouco da minha boa influência passasse para Miley? 
Meu Deus, não era de espantar que ela me odiasse tanto! 
Eu me odiava, ouvindo como eles me descreviam.

Mas a verdade é que eu não queria ir embora. Mesmo que tia Jennifer tivesse errado totalmente o alvo com seu comentário sobre "pés plantados com muita firmeza no chão". Ela claramente não fazia idéia de para onde eu ia amanhã - um lugar onde eu sabia que, agora que ia ficar na casa, não tinha opção a não ser ir. 
E eu não iria lhe contar.
- Certo - concordei. - Eu fico. 
Afinal de contas, qual era a pior coisa que poderia acontecer? Nada tão ruim quanto o que havia acontecido em Hancock. Pelo menos foi o que eu pensei naquele momento.

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Finalmente SOA sai do hiatus cherries, espero que tenham gostado deste capítulo.
Infelizmente, ocorreram alguns probleminhas com a enquete. Então levei em consideração os dois votos que eu tinha visto antes dela travar e o que recebi pelos comentários, e a fanfic vencedora foi essa. Então vou terminar SOA, depois UPD, e então começa a segunda temporada de Inspiration. Se quiserem que intercale as duas, é só pedir nos comentários, lembrando que UPD é uma ShortFic, então não terá muitos capítulos.
Provavelmente postarei quinzenalmente, intercalando com algumas das tags e resenhas, mas pode ser que venha a postar toda a semana dependendo das postagens feitas e dos pedidos. 
Até amanhã amores, See Ya



2 comentários:

  1. Oi Tatii! Finalmente a segunda temporada de Inspiration vem em breve.
    Parabéns pela nota 10! Bem merecida!
    Achei interessante esse desafio da Copa Literária mas tenho uma questão. Tendo em conta que vivo em Portugal, eu apostaria em Portugal e não no Brasil (e talvez em Espanha sendo ela campeã da Europa), mas se tivesse que falar de livros nacionais, para mim seriam os portugueses e não os brasileiros. Tem problema se falar de livros portugueses? Ou, nesse caso, o desafio é só para pessoas residentes no Brasil?

    Beijos.

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    Respostas
    1. Siim, logo logo a estarei postando (:
      Obrigada ^^
      Sobre a copa vou responder no seu blog, acho que fica melhor e assim vê mais rápido (:
      Beijos :*

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