Começou no dia seguinte.
Eu soube disso quando me aproximei do meu armário da escola, antes mesmo do início da primeira aula. Parei de repente, com o trânsito no corredor me rodeando, as pessoas me lançando olhares irritados enquanto tentavam passar.
Não houvera sinal de Miley naquela manhã, e, tendo notado a tensão no rosto de tia Jennifer à mesa do café, não esperei por ela e simplesmente fui para a escola sozinha.
Aparentemente a pequena reunião que tia Jennifer e o tio Brad haviam tido com Miley na véspera, quando esta finalmente apareceu, não havia ocorrido bem
Joe, com quem eu havia esbarrado no caminho da escola, olhou o corredor ao redor e perguntou:
- O que é?
- Olha – apontei.
Os corredores da escola Chapman geralmente são apinhados. A escola elitista, cujos formandos costumam ir para faculdades importantes, estava passando por uma fase de popularidade que resultava em salas quase atulhadas e corredores por onde mal dava para passar. Mas, naquele dia, estava ainda pior.
Então percebi que a multidão não era composta pelo pessoal que eu via normalmente do lado de fora das salas esperando o sinal tocar, mas também professores e até alguns administradores da diretoria. Todos estavam parados, olhando para um ponto... e aquele ponto, eu sabia, mesmo a cem metros de distância, era o meu armário.
Com um sentimento crescente de pavor, para não mencionar a ressurreição do nó no estômago, abri caminho passando por dois jogadores de lacrosse que estavam bloqueando minha visão, e parei. Ali, pendurado por um cadarço de sapato preso na abertura de ventilação na parte superior do meu armário, estava um rato morto. Algum tipo de líquido – não era sangue – pingava da cavidade onde a cabeça do rato deveria estar, formando uma poça rosada no piso de ladrilhos diante do meu armário.
Joe se espremeu pela multidão atrás de mim e congelou. Senti a respiração quente dele na minha nuca, enquanto ele sussurrava...
- Cacet...
Um zelador estava desamarrando cuidadosamente o rato, com um saco plástico embaixo, para receber o corpo, que caiu, com um som fraco e nojento. Vários estudantes gemeram.
- Esse armário é seu, senhorita? – perguntou uma administradora de nariz afilado.
Eu não conseguia afastar o olhar da poça cor-de-rosa na frente da porta do meu armário.
- Sim, senhora – respondi.
- Tem alguma idéia de quem poderia ter feito isso?
Levantei o olhar da poça, mas em vez de fixá-lo no rosto da mulher, examinei a multidão, procurando uma pessoa em particular. Finalmente notei Miley pressionada contra os ombros dos jogadores de lacrosse, espiando entre eles, com um sorriso de triunfo grudado no rosto.
Desviei o olhar e disse à administradora.
- Não, senhora. Não tenho idéia de quem poderia ter feito isso.
Passei o resto do dia numa espécie de névoa. Ficava me perguntando: o que Miley achava que estava fazendo? Roubando um rato de dissecação do laboratório de biologia – por que era de lá, pelo que fiquei sabendo, que o rato tinha vindo. O líquido que pingava do pescoço aberto era formol – cortar a cabeça do bicho e pendurá-lo aberto do lado de fora do armário de alguém não era bruxaria, nem preta nem branca. Não era magia. Era apenas doença. Era assim que Miley pretendia me castigar por tê-la amarrado para não fazer magia? Mostrando como ela poderia ser poderosa mesmo sem fazer feitiços? Bom, estava dando certo. Eu estava apavorada – não por causa do rato, mas por causa do que ele representava. Se alguém podia fazer isso com um rato – mesmo um rato já morto – quem saberia o que faria com um gato... ou uma au pair inocente.
- Sei que foi a Miley – informou Joe em tom casual, na aula de educação física. – E está na hora de alguém fazer alguma coisa sobre isso.
- Por favor, não se envolva – respondi.
Nuvens haviam finalmente chegado sobre Manhattan, e em vez de dar a aula de educação física embaixo da chuva, o professor Winthrop obrigou os alunos a jogar queimado no refeitório. Eu havia deixado que a bola me acertasse imediatamente, e um minuto depois Joe se juntou a mim. Ficamos sentados com as costas na parede, junto com as outras pessoas que haviam sido acertadas.
- Já estou envolvido. Qual é, Demi, não sou idiota. Não sei o que está acontecendo entre vocês duas, mas tenho minhas suspeitas, e não vou deixar que ela...
- Sério, Joe. – Concentrei-me em amarrar de novo meus tênis, para que ele não visse como eu estava perto de chorar. – Apenas fique fora disso, certo?
Ele não pareceu nem um pouco intimidado.
- Por quê? Por que tenho de ficar fora disso? Sou eu quem está provocando, não sou?
- Não exatamente.
Eu sabia o que precisava fazer, pelo menos com relação ao Joe. Só que realmente não queria.
Mas que opção eu tinha? Ou contava a verdade... ou Miley contaria a versão dela. Pelo menos se eu fizesse isso haveria uma chance – uma chance pequena, admito – de que ele entendesse.
Porque havia muito mais na história do que Miley sabia.
- Há um pouco mais do que – comecei, desajeitada, imaginando como, afinal, iria fazer com que ele entendesse – a fixação de Miley por você.
Mas, para minha surpresa, ele tornou as coisas muito, muito mais fáceis, estendendo a mão e tocando o pentagrama pendurado no meu pescoço.
- É essa coisa? Esse lance de bruxa?
Alguma coisa se prendeu na minha garganta. Acho que era o nó do estômago.
- É – falei depois de tossir. – Naquele dia em que fomos à Encantos, no Village... eu... eu não contei exatamente a verdade.
- Quer dizer que aquele livro era para você, e não para Dallas? – O olhar que ele me lançou era ligeiramente sarcástico. – Eu posso não ter percepção extra-sensorial como você, Demi. Mas consegui deduzir essa parte sozinho.
- Eu... não tenho percepção extra-sensorial – gaguejei.
- Até parece. Então como você sabia que aquele mensageiro de bicicleta ia me atropelar? Como sabia o momento exato para me tirar do caminho?
- Isso foi só... isso foi só... – Minha voz ficou no ar. Os olhos castanhos de Joe me hipnotizavam.
- Demi, eu sei que você tem... bem, talentos especiais. Mas você não acredita mesmo que todo esse negócio de bruxaria funciona, não é? A magia, os feitiços, a besteirada do vodu. Não acredita, não é?
Afastei o olhar dele com esforço, e o mantive na partida de queimado:
- Eu... acredito, Joe. O negócio é que eu vi coisas... coisas que não poderiam ser explicadas a não ser pela magia.
- As civilizações antigas usavam o conceito de magia para explicar qualquer coisa que não pudessem entender... como a doença – rebateu Joe, sério. – Mas agora nós temos mais informação, por causa da ciência. Só porque não há outra explicação que a gente conheça, não significa que seja magia.
- Eu sei. Mas isso não nega o fato de que... eu acredito. E, mais importante, Miley também.
- Bom, isso precisa parar. Não está certo. O que quer que Miley esteja fazendo... não vou ficar só olhando, como todo mundo nessa escola. Não vou deixar ela ficar numa boa com isso.
Baixei a cabeça.
- Não. Sério, Joe, não. Miley... ela está realmente furiosa comigo. Não só por sua causa, mas porque eu não... bem, eu não quero entrar para o coven dela. Ela vai tentar uma vingança, não vai parar nesse rato morto, e um modo de fazer isso pode ser... bem, ela pode tentar contar coisas a você, sobre mim...
- Que tipo de coisas? – perguntou Joe, um pouco depressa demais. Minhas bochechas começaram a esquentar, mas mantive o olhar no jogo.
- Coisas sobre eu ser uma bruxa. Não sou, mas, como falei... já andei mexendo com isso. E ela pode dizer coisas sobre... bem, um cara...
- O cara que estava assediando você – terminou Joe para mim. – É, eu deduzi. Que tipo de coisas sobre ele?
- Não sei. Qualquer coisa que ela falar sobre ele vai ser mentira, porque ela não conhece toda a história.
- Qual é toda a história? Demi, o que aconteceu com esse cara? O que ele fez, para você ter de fugir para o outro lado do país?
Lancei-lhe um olhar espantado.
- Ele não fez nada comigo. Não foi nem um pouco assim. mas é isso que eu quero dizer. Ela pode tentar inventar... nem sei o quê. O negócio, Joe, é que Miley tem problemas. – Pensei na foto de Petra no fundo da caixa de areia. – Problemas sérios.
- Eu sei que ela tem problemas. Meu Deus, Demi, ela pendurou um rato sem cabeça na porta do seu armário. isso não é sinal de alguém que esteja bem. Mais motivo ainda para alguém contar aos pais dela.
- Joe, não vai adiantar. Ela simplesmente negaria. E não há prova de que foi ela...
O som agudo do apito nos interrompeu. O professor Winthrop gritou:
- Jonas! Lovato! Isso aqui não é lugar de descanso. Levantem-se! Fiquei rapidamente de pé.
- Por favor, Joe – pedi, com o estômago enjoado. – Deixe que cuido disso, certo? Sei que tudo vai ficar bem.
Ele balançou a cabeça.
- Sabe? Tipo você olhou o futuro e viu isso?
Fiz uma careta.
- Bem, não... não exatamente. Mas as coisas não podem piorar, podem?
Eai skyscrapers, o que acharam do capítulo?
E qual acham que será a resposta para a pergunta que Demi... Jinx fez no final?
Pretendo trazer novidades em breve para vocês, aguardem *-*
~xoxo
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