20 setembro 2012

5 Canções - 1. Crazy Little Thing Called Love

Coisinha Louca Chamada Amor

Quem é que entende essa coisinha louca chamada amor?
Na verdade, o termo certo seria "essa puta idiotice vinda dos infernos chamada Estrague Sua Vida e Entre em Depressão", mas, convenhamos, não seria um bom nome para uma música.
Na verdade, EU acho que seria o nome perfeito, mas desde quando minhas opiniões importam?!
Voltando à pergunta, se você entende, compartilhe seus conhecimentos comigo, colega, porque tá difícil, viu?
O que essa música tem a ver com a minha história? Simples.
Sabe aquelas histórias de amor que fazem garotas suspirarem e garotos revirarem os olhos? É, aquelas mesmas onde a garotinha indefesa se apaixona perdidamente pelo cara mais cafajeste da face da Terra. Sabe quais são?
Então...
Prazer, eu sou a garotinha indefesa.
Acho que você consegue imaginar quem é o (ou melhor, a) cafajeste, certo?
O que eu quero dizer, especificamente, é que eu me apaixonei pela garota mais idiota da face da Terra, que não liga pra mim e sempre me xinga quando tem uma oportunidade.
A garota mais insensível, mais doida, mais estranha, mais... Linda nessa porra de Universo!
Ah, claro, esqueci de dizer...
A sem-coração, destruidora de sonhos e manipuladora de mentes é minha melhor amiga.
Se agora você acha que eu estou ferrado, acredite, você acertou.
Entende por que essa música se encaixa perfeitamente com o início dessa história? E entende por que eu simplesmente estou indignado com o nome tão fofo que ela recebeu?
Acho que a convivência com certa pessoa me deixou meio revoltado, exatamente como essa certa pessoa é.
Ok, vou parar de fingir que você não sabe quem é essa droga de certa pessoa, porque você sabe e eu sei que você sabe e eu sei também que essa certa pessoa gosta de complicar a minha vida e, por isso, ela combina perfeitamente com a tal da música e...

Thomas Fletcher, venha aqui agora! - a criatura adorável interrompeu meus pensamentos, gritando lá da cozinha e eu, como a garotinha indefesa que sou, corri até lá, preocupado com o que eu havia feito para magoar tão profundamente minha musa inspiradora.
Patético? Acho que é bem mais que isso...
Com certo receio, me aproximei da porta da cozinha. Acredite, aquela garota tinha três tipos de tons pra se referir ou falar comigo quando estava brava. O primeiro era aquele, o mais ameno, que ela usava quando eu estava jogando bolinhas de papel pela sala e uma pegava nela, ou quando eu molhava ela (sem querer) quando íamos à praia. E esses tons sempre significavam uma consequência.
A consequência do mais ameno? Que eu estava fodido.
Melhor não comentar sobre os outros, né?
- O que foi? - perguntei com a voz mais suave que fui capaz de reproduzir, quase sorrindo só por estar na presença dela.
Eu disse que era mais do que patético...
- Você pode me dizer por que você acabou com todo o leite condensado da minha casa? - ela disse, com um tom de voz falsamente calmo e eu quase revirei os olhos. Mas claro que eu não fiz isso, afinal, da última vez que revirei os olhos pra algo que ela disse, ela tacou uma faca na minha direção e eu quase morri.
Tá, foi só uma almofada, mas e daí?
- Porque... - tentei pensar em uma resposta não muito ofensiva, afinal, nossa briga diária já havia acontecido pela manhã e eu realmente não precisava de outra. Mas claro que eu não consegui. - Porque leite condensado é gostoso...? - a resposta saiu parecendo uma pergunta e quase me chutei por usar aquele tom óbvio que ela odiava que eu usasse. Mas, no fim, eu gostava de usar aquele tom com ela. Era tão legal deixá-la brava!
Ela olhou pra baixo, respirou fundo e eu quase pude vê-la pulando em cima de mim mas, pra minha surpresa, ela apenas suspirou e sorriu.
- Você é a pessoa mais idiota, ridícula e faminta da face da Terra - ela disse, ainda com aquele sorriso. Sorri também, tentando não parecer um idiota completo.
- Obrigado pela parte que me toca... - resmunguei, caminhando até ela e a abraçando.
É, eu não podia perder a oportunidade, caramba!
Senti minha pele da barriga arder dolorosamente e me afastei dela.
A filha da mãe tinha me beliscado! Outch!
Isso - ela disse, ainda sorrindo - É por ter acabado com o meu leite condensado!
Então ela me deu um beijo no rosto e saiu da cozinha rebolando.
Já disse que odeio quando ela rebola assim?
Tá, eu não odeio, mas fica meio difícil me controlar quando ela faz isso, entende?

A questão era que eu e ela vivíamos nos irritando desde que nos conhecemos. Na verdade, no começo, nos odiávamos. Mas então descobrimos que quando não estávamos brigando por alguma coisa, éramos legais um com o outro. Foi aí que começou a nossa amizade que, hoje, é uma das coisas mais importantes na minha vida.
Sim, isso foi bem gay, mas eu não ligo mais. Afinal, não é todo mundo que tem a sorte de encontrar alguém que me entende como ela faz. Ou que goste de mim como ela gosta.
Mas claro que o imbecil aqui tinha que misturar as coisas, não é?
E, sinceramente, eu não sei bem quando isso aconteceu. Simplesmente... Aconteceu. Em um belo dia eu acordei e, quando a vi, estava perdidamente apaixonado por ela.
Tudo bem, não foi bem assim. Na verdade, foi exatamente assim que eu percebi que gostava dela. Mas acredito que essa coisa toda começou aos poucos.
E o incrível é que, há uns dois anos, eu nem imaginaria que isso pudesse acontecer! Afinal, passamos por tantas coisas juntos, crescemos juntos, brincamos juntos... E agora isso.
Mas esqueça também, afinal, essa não é uma história de como eu comecei a gostar dela e sim de como eu fiz pra conquistá-la.

Merda! Eu sempre falo demais, não é?

Tom, dá pra você parar de me encher o saco por dois minutos, coleguinha? - ela resmungou, no fatídico dia da primeira música.
Gargalhei do tom de voz dela, mas continuei a cutucando. Ela estava tentando assistir algum seriado na TV que eu sinceramente não me lembro qual é. One Three Kill ou algo assim.
- Caralho, você é uma praga, sabia? - ela gritou, batendo na minha mão e tentando me empurrar pra longe.
- Vou falar pra sua mãe que você fica falando palavras feias - provoquei, com uma voz de criança e ela revirou os olhos.
- Eu não te mereço, garoto. Juro! - ela disse, mas eu sabia que ela não estava mais irritada. Essa era uma coisa legal nela: sempre se irritava comigo, mas nunca durava muito tempo.
Talvez seja esse o motivo da nossa briga mais longa ter durado apenas 12 horas. Ou talvez o motivo seja que brigamos às duas horas da manhã por telefone, fomos dormir e só nos vimos de tarde.
É, acho que o motivo foi esse, mas enfim...
- Eu só queria um pouco de atenção, poxa... - resmunguei e ela revirou os olhos novamente, mas riu. Mais uma coisa que eu adoro nela: a risada. Não sei se algum dia na sua vida você já encontrou alguma pessoa assim, que nem ela, então acho que você só vai me entender quando souber o que é, mas mesmo assim vou tentar explicar.
Sabe aquelas pessoas que riem e você se sente quase obrigado a rir também, porque é uma risada tão gostosa, tão boa de se ouvir que não importa se o motivo da risada foi algo engraçado ou o fato de você ter mijado nas suas calças, você ri porque você está ouvindo aquela risada, e aquela risada te faz rir?
Sou péssimo pra explicar coisas, não sou?
- Não, você não quer um pouco de atenção - ela retrucou, depois de rir - Você quer encher meu saco mesmo.
Mas, mesmo assim, ela ainda se sentou mais perto de mim no sofá e me abraçou de lado.
- Gente carente é uma droga, sabia? - ela sussurrou no meu ouvido e eu ri, bagunçando o cabelo dela.
E então ela voltou a prestar atenção na porcaria do seriado e eu tentei achar um pouquinho de coragem. Precisava colocar meu plano em prática, mas podia dar uma merda tão grande que eu fiquei quieto até a droga do episódio acabar.
Quando acabou, Ash se espreguiçou longamente enquanto eu apenas observava.
- O que foi? - ela perguntou, quando percebeu que eu estava olhando pra ela.
Era agora. Eu tinha que falar. Tinha que perguntar e...
- Vocêsabeoqueéamor? - soltei tão rápido que Ash riu da minha cara, sem entender nada.
- Quando você voltar a falar a minha língua, quem sabe eu te entenda... - ela disse, com uma sobrancelha erguida e eu me dei um chute mentalmente.
- Você sabe o que é amor? - repeti, dessa vez mais lentamente. Acho que eu teria rido da cara incrédula que a Ash fez, se eu não estivesse tão nervoso.
- Como assim?
Revirei os olhos pra lentidão dela. Aquela ali funcionava à manivela!
- Amor, Ashley. - eu disse, no famoso tom óbvio que ela odiava que eu usasse. - Você sabe o que é? - perguntei novamente.
- Sei... - ela respondeu, ainda parecendo confusa com o rumo da conversa.
Engoli em seco, me forçando a continuar com a conversa até o fim.
- E quem você ama? - perguntei, sem tirar os olhos dos dela e ri de nervoso ao ouvir sua risada.
- Eu amo um monte de gente, Tom - ela disse, virando pra frente e abraçando as próprias pernas. - Amo meus pais, amo meus tios, minhas tias... Amo você... - ela deixou a frase no ar e meu coração começou a bater mais rápido.
- Mas isso é amor de família, de amigo... - continuei, rezando pra que ela entendesse onde eu queria chegar, afinal, eu era uma droga com as palavras. - Você nunca amou alguém... Você sabe... De outro jeito?
Ash pensou um pouco antes de negar com a cabeça.
- Mas por quê? - ela perguntou, cedo demais. Por que, por que...Como eu ia dizer o porquê pra ela agora?
- Sei lá, Ash... - respondi, parando de olhar pra ela e olhando pra TV, que anunciava um filme que estava passando no cinema. - Só fiquei curioso... Sabe, achei que garotas entendessem mais disso do que garotos e...
E... ela deu um pulo no lugar que estava, me encarando de um jeito estranho.
- Você está... Amando alguém? - ela perguntou, meio esganiçada e eu ri.
Olhei pra ela de lado. Ela estava com os olhos curiosos pousados no meu rosto, registrando cada reação minha. Dei de ombros.
- Talvez... - respondi e ela riu.
- E quem é? - ela perguntou.
- Não posso te contar. - respondi. - E você ficaria com inveja mesmo - brinquei - Você não sabe o que é amar alguém, então não entenderia nada.
Ela ficou pensativa por um tempo, antes de pousar a cabeça no meu ombro.
- Me conta como é. - pediu e eu sorri largamente. Eu tinha quase certeza de que ela me pediria isso e era exatamente o que eu precisava que ela fizesse.
- Amar é... - suspirei pesadamente. - Sabe aquela música? - perguntei e, sem esperar resposta, cantei um pedacinho - This thing called love, it cries like a baby in a cradle all night. It swings, it jives, it shakes all over like a jelly fish...* - Ash levantou a cabeça, olhando pra mim e sorrindo enquanto eu cantarolava. Sorri pra ela quando terminei - É bem parecido com isso, sabe...
E então eu contei pra minha melhor amiga (mesmo que ela não soubesse disso ainda) como era estar apaixonado por ela.

* Essa coisa chamada amor chora no berço toda a noite. Balança, dança, se mexe toda como uma água-viva. (Queen - Crazy Little Thing Called Love)

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